03 abril 2010

Toponimia...


Diz-me onde moras... (por Miguel Esteves Cardoso)

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por 
exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou 
um andar em Carnaxide. 
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um 
problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e 
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que 
umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por 
curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não 
interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, 
Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja. ou
em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau.
(...)

Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das 
Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para 
entrar na Europa.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o 
Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?

Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é 
nada comparado com certos nomes portugueses.

Imagine-se o impacto de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um 
jantar.

Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a 
menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" 
(Espinho).

E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, 
presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da 
Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo 
depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão 
Fundeiro?

Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de 
uma versão transmontana do Garganta Funda.

Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em 
Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso ?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma 
Vergadelas?

É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".

Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa 
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer 
mentir.

Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de 
naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).

É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos 
estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como 
sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado 
Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os 
nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais 
um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso 
que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água 
(Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar 
rebuçados em Bombom do Bogadouro (Amarante), depois de ter parado para fazer
um chichi em Alçaperna (Lousã).

(Miguel Esteves Cardoso)

PICHAS pra todos

Em Pedrógão Grande,
nasceu há muito a ALDEIA DA PICHA, que não fica muito longe da VENDA DA GAITA.

Em Bruxelas,
nasceu em 1942 o PICHA mais conhecido do mundo do cinema (Jean-Paul Walravens) - realizador do filme "Tarzoon, a vergonha da selva".

Entre Marte e Júpiter,
nasceu em 1997 o PICHA - foi a Lenka (astrónoma russa) que "deu à luz" da ciência o asteroide nº 12051 da cintura principal do sistema Solar.

Em Lisboa,
nasceu 1992 o JARDIM DAS PICHAS MURCHAS, em plena Alfama - quem diria, plantaram três árvores no recanto duma viela, e chamaram-lhe uma coisa dessas - JARDIM???!!!
O resto do nome, até está bem visto, pois este era o recanto preferido pelo pessoal das vidas, para aliviar a bexiga, depois de uma noitada de copos.
Encostados à parede, para não tombar, quando inclinavam a cabeça para procurar a coisa, que fruto da cerveja e da bebedeira estava mais para baixo do que para cima, dentro da berguilha, dificultando e muito a satisfação do saudável costume - "quando mija um português, mijam logo, dois ou três"!

3 comentários:

Anónimo disse...

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Celina disse...

um feliz domingo de páscoa para vc e familia, um abraço fraterno de celina.

mundo azul disse...

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Obrigada pelo texto! Confesso que dei boas risadas...



Beijos de luz!


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