21 março 2007

ZÉ AREIAS

Barbeiro. Por profissão. Gozador, piadista e louco por uma caeba. Por devoção. Gordo. Bonachão (às vezes). Espírito afiado como uma peixeira que se preza. Cuspindo na horinha, a resposta adequada. Essencialmente bom. Conquistou os gringos, durante a guerra, e vendeu-lhes urubu por peru e morcego por pássaro de borracha. Chegou a ir até à ilha de Ascenção, levado pelos “my friends”, para cortar o cabelo e fazer a barba dos combatentes, lá do outro lado. Uma vez vendeu um gambá e, por causa disso, um B-24 ficou um bocado de tempo de quarentena, em Parnamirim.

Entre as manias de Zé Areias, que eram muitas, haviam duas bem fortes: vender rifas e discutir com Bevenuto, alfaiate seu amigo, que tinha a casa de negócio na esquina da Dr. Barata com a travessa Argentina.

Pois bem: um dia Zé Areias vinha puxando um bode por uma corda e vendendo os bilhetes da rifa do cujo. Passando pela porta de Bevenuto, este, para mexer com Zé Areias, disse-lhe: Que é isso Zé? Esse bode além de chifrudo parece que é fresco. Zé Areias não se deu por achado. Puxou a cordinha do bode e falou: “Vambora Bevenuto.”

Outra vez Zé Areias ia no antigo bondinho da Lagoa Seca, e lá pras tantas, tocou a sineta de parada e disse, bem alto: “Pára pra descer um corno.” Quando todo mundo começou a achar graça e a querer mangar de Zé Areias, ele falou: Agora pode levar o resto.

Um dia Zé Areias estava em um restaurante da Ribeira, comendo uma galinha de cabidela, quando apareceu uma conhecida e ele perguntou se ela queria acompanhá-lo na refeição. A mulherzinha, meio grossa, respondeu: “Quero nada! Não suporto galinha,” ao que Zé Areias respondeu, imediatamente, com sua língua afiada: “Nunca ví classe tão desunida”.

Texto extraído do Livro "DE LÍRICOS E DE LOUCOS", de Augusto Severo Neto

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